
Mubarak inicia período de transição com a instalação de duas comissões
Depois de 15 dias de manifestações de protesto contra o presidente do Egito, Hosni Mubarak, o governo anunciou, nesta terça-feira, o começo do processo de transição, com a instalação de duas comissões que vão por em prática os acordos fechados com a oposição e tratar de mudanças constitucionais. Segundo o vice-presidente Omar Suleiman, que fez o anúncio, haverá um cronograma a ser seguido.
“Chegamos a um consenso com o diálogo em nível nacional. Um cronograma claro será anunciado para a transição pacífica”, disse Suleiman, que foi nomeado por Mubarak o mediador das negociações com a oposição. “O presidente (Mubarak) decidiu formar um comitê constitucional para examinar as emendas constitucionais que vêm sendo solicitadas.”
Porém, os vários segmentos oposicionistas defendem a saída imediata de Mubarak e insistem em manter os protestos até que o presidente abra mão do poder. No entanto, Mubarak informou apenas que não se candidatará em setembro à reeleição e que ficará até o final do seu mandato – que acaba em dezembro de 2011.
Apesar da controvérsia, o vice-presidente reiterou a importância das comissões. “(As comissões vão trabalhar de forma) transparente no que for concordado entre as partes envolvidas no diálogo nacional", disse ele. Suleiman também garantiu que serão investigados os casos de violência registrados nos dias de protestos.
Para Suleiman, com diálogo, é possível encerrar a onda de protestos no país. "O presidente vê com bons olhos essa harmonia e acredita que ela nos coloca no caminho para sair da atual crise", disse ele.
De acordo com a organização não governamental Human Rights Watch, o governo Mubarak, por meio do Serviço de Saúde, oculta o número de mortos e feridos nos conflitos registrados no país. Pelos dados das Nações Unidas, são pelo menos 300 mortos e cerca de 3 mil feridos.
Protestos continuam
Centenas de milhares de egípcios foram às ruas do Cairo e outras cidades do país nesta terça-feira nos maiores protestos desde o início da revolta contra Mubarak, em 25 de janeiro.
Jornalistas da AFP que tinham visão sobre a praça Tahrir, no centro do Cairo, informaram que a multidão é maior que a registrada nos protestos anteriores, na terceira semana da revolta contra o regime de Mubarak, com centenas de milhares de pessoas reunidas no fim da tarde.
Dezenas de milhares de pessoas também se reuniram em outras grandes cidades, incluídas as 20 mil de Alexandria, a maior cidade do norte do país.
Na praça Tahrir, cheia de gente, os manifestantes agitavam bandeiras egípcias e cartazes nos quais se lia "o povo exige a saída do regime", slogan do protesto.
Muitos gritavam slogans divulgados em redes sociais de Internet, como Facebook e Twitter, ferramentas importantes de mobilização, graças a militantes como o executivo do Google Wael Ghonin, convertido em herói depois de ter permanecido detido, com olhos vendados, durante 12 dias por conta de uma manifestação.
"O herói não sou eu, e sim vocês, que estão aqui na praça", gritou Ghonim exaltando o ânimo dos manifestantes.
"Devem insistir para que cumpram suas reivindicações", completou, interrompendo seu discurso pela multidão que gritava: "queremos que o regime caia".
Os manifestantes não se contentam com os anúncios do regime. "Nenhuma de nossas demandas foi atendida", explicou Mohamad Nizar, 36 anos, que estava na praça. "Anunciaram aumento de salários, tentam nos enganar. É um suborno político para levar o povo ao silêncio".
Na segunda-feira, o chefe de Estado prometeu uma alta de 15% dos salários dos funcionários públicos e das aposentadorias a partir de 1º de abril.
Também pediu a formação de uma comissão de investigação sobre os episódios de violência do último dia 2 de fevereiro na praça Tahrir, onde confrontos opuseram simpatizantes e opositores de Mubarak.
Nesta terça-feira, os Estados Unidos consideraram "crucial" que o Egito progrida rumo a uma transição democrática ordenada, enquanto que a França citou a "emergência das forças democráticas" para uma transição que deve ocorrer "sem violência e o mais rápido possível".
A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, pediu diante do Conselho de Segurança da ONU uma "verdadeira reforma" no Egito e na Tunísia, onde as revoltas tiraram o ditador Zine el Abidine Ben Ali do poder em 14 de janeiro, e ofereceu ajuda a esses países para lutar contra a corrupção e ter governos mais transparentes.
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