No discurso anual de abertura da 67ª Assembleia das Nações Unidas, que por tradição cabe ao Brasil, a presidente Dilma Rousseff subiu o tom contra os países ricos, criticando o que chamou de 'política monetária expansionista, que desequilibra as taxas de câmbio', e defendeu o Brasil das recentes acusações de protecionismo feitas pelos Estados Unidos.
'A grave crise financeira iniciada em 2008 ganhou novos e inquietantes contornos. A opção por políticas fiscais ortodoxas vem agravando a recessão das economias desenvolvidas com reflexos nos países emergentes, incluindo o Brasil', disse Dilma em seu pronunciamento na ONU.
Segundo Dilma, o resultado de tais políticas, como a recente injeção de recursos do Fed (o banco central americano), é a 'perda de mercado' dos países emergentes 'com a valorização de suas moedas', o que acaba agravando a pobreza e impossibilitando a retomada da economia global.
Esta foi a segunda vez que Dilma fez o pronunciamento oficial de inauguração do encontro anual, costume herdado desde que o diplomata Oswaldo Aranha (1894-1960) abriu a Assembleia Geral da ONU em 1947.
A presidente lembrou que, desde seu primeiro discurso no ano passado, constatou 'a permanência de muitos problemas que nos afligiam desde 2011'.
Para Dilma, 'a política monetária não pode ser a única resposta para resolver o crescente desemprego, o aumento da pobreza e o desalento que afeta no mundo inteiro as camadas vulneráveis da população mundial'.
A presidente também aproveitou seu discurso para rebater as acusações de protecionismo feitas pelo representante comercial dos Estados Unidos na semana passada.
'Não podemos aceitar que políticas sejam injustamente qualificadas como protecionismo'. Segundo Dilma, as medidas estão 'estão legitimamente amparadas pela Organização Mundial do Comércio (OMC)'.
Dilma relembrou os feitos dos últimos anos, quando o Brasil tirou '40 milhões de brasileiros da pobreza, consolidando um amplo mercado de consumo de massa'.
Embora afetado pela crise, o país está 'mantendo o nível de emprego a patamares elevados e reduzindo a desigualdade'.
Oriente Médio
Dilma condenou, ainda, a onda de violência na Síria e o governo de Damasco. 'Assim como em 2011, o Oriente Médio e o Norte da África continuam a ocupar um lugar central de atenção na comunidade internacional', relembrou.
'Em quase todos esses movimentos, há grito de revolta contra a pobreza, desemprego, falta de oportunidade de liberdades civis impostas por governos autoritários, sobretudo a populações mais jovens', acrescentou.
Para Dilma, a situação no Oriente Médio foi 'provocada por décadas de políticas coloniais e neo-coloniais levadas a cabo por interesses civilizatórios'.
'Lanço aqui um apelo para as partes em conflito para que deponham as armas', acrescentou.
Dilma também repudiou o que chamou de 'escalada de preconceito islamofóbico em países ocidentais', sendo aplaudida logo em seguida.
'Com a mesma veemência, repudiamos os atos de terrorismo que vitimaram cidadãos americanos na Líbia', acrescentou.
A presidente também voltou a comentar o conflito entre israelenses e palestinos e reiterou seu apelo para o reconhecimento dos territórios autônomos palestinos como Estado membro da ONU.
Reforma da ONU
BBC Brasil
"Dilma Rousseff e Ban Ki-Moon | Crédito da foto: AFP"
Antes de concluir seu pronunciamento, Dilma reivindicou novamente uma reforma do Conselho de Segurança da ONU, pleito já já defendido pelo governo brasileiro nos últimos anos.
'A crise iniciada em 2008 mostrou que é necessário reformar os mecanismos da governança econômica mundial', afirmou. 'É imperiosa a urgência da reforma institucional da ONU e em especial de seu Conselho de Segurança.'
Dilma também aproveitou para ressaltar os feitos atingidos na Rio+20, a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, realizada em junho no Rio de Janeiro.
'O documento final que aprovamos por consenso não só preserva o legado de 92, como constitui um ponto de partida para uma agenda de se sustentável para o século 21', concluiu.
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