quinta-feira, 24 de maio de 2012
Destinos europeus tentam atrair turista brasileiro gastador
O cenário de crise na União Europeia (UE) e o aumento do turismo brasileiro no exterior está fazendo com que novos destinos busquem atrair mais viajantes do Brasil, que têm fama de gastadores. Dados da Organização Mundial do Turismo, da ONU, apontam que os turistas brasileiros aumentaram em cerca de 30% seus gastos no exterior entre 2010 e 2011, de US$ 16,4 bilhões para US$ 21,2 bilhões.
Com isso, o País passou do 18º para o 11º no ranking dos turistas que mais gastam em viagens internacionais. A República Tcheca "descobriu" o valor do turista brasileiro em 2006, quando viajantes à Copa do Mundo da Alemanha fizeram uma "esticada" em Praga. No ano seguinte, o país do Leste Europeu abriu um escritório turístico latino-americano para promover campanhas de marketing que atraíssem os viajantes da região.
"De lá para cá, os resultados foram crescentes em todos os anos", disse à BBC Brasil Luiz Fernando Destro, representante em São Paulo do escritório turístico da República Tcheca. "O país recebeu 43 mil turistas brasileiros em 2011, contra 11 mil em 2007." O mais interessante para os tchecos, porém, não é o número de turistas, e sim o quanto eles gastam.
"Os turistas brasileiros representam apenas 0,5% do total que visitam a República Tcheca, mas seu gasto per capita diário é o terceiro maior no país, só perdendo para o dos turistas da Rússia e do Japão", afirmou Destro. "Percebeu-se que é um turista que dá lucro. Afinal, se você vai viajar 11 horas, vai querer ficar vários dias no país, vai querer um bom hotel, fazer compras e ver bons espetáculos."
Dinamarca e Hungria
A Dinamarca e a Hungria são outros países que, mesmo sem voos diretos, despertaram recentemente para o turista brasileiro. Nos dois últimos anos, os escritórios turísticos dinamarquês e húngaro deram início a campanhas de marketing no Brasil, focando em feiras setoriais e agentes de viagens.
Entre março de 2011 e 2012, 33 mil brasileiros visitaram a Dinamarca (entre viajantes aéreos e participantes de cruzeiros), crescimento de 30% em relação ao mesmo período um ano antes, informou Nikolas Mortensen, do escritório de turismo do governo dinamarquês. "Todos os países emergentes estão no nosso radar, por seu potencial", disse Mortensen, explicando que a Dinamarca pensa, no futuro, em manter um agente turístico fixo no Brasil, função que já existe na Rússia, por exemplo.
Quanto aos gastos brasileiros na Dinamarca, porém, Mortensen é mais cauteloso: "Depende de com quem você compara o turista brasileiro. Muitos estão em cruzeiros e passam apenas um ou poucos dias em Copenhague. Já o turista alemão muitas vezes aluga uma casa e passa uma temporada aqui".
Uns dias a mais
A Hungria não tem números consolidados, mas também afirma que o número de visitantes brasileiros está crescendo. "Até pouco tempo atrás, não fazíamos nenhuma ação proativa. O Brasil e a América do Sul eram lugares distantes, não víamos motivos. Mas agora vemos", afirma Kristina Bacsak, da agência oficial de turismo húngara.
Ela explica que o objetivo é convencer o turista que faz o tradicional tour Viena-Budapeste-Praga a passar uns dias a mais na Hungria - e, obviamente, a deixar seus reais em festivais culturais, atrações gastronômicas e até na Fórmula 1. "É um turista que tende a gastar bastante, por estar interessado em serviços de qualidade, boa gastronomia e compras", agrega.
Outro indicativo do interesse pelo turista brasileiro é um convênio assinado pela Comissão Europeia e pelo Itamaraty em outubro passado, para incentivar o turismo entre a América do Sul e a Europa. A iniciativa, chamada "50.000 Tourists", prevê convênios com agências de turismo, companhias aéreas e governos para "desenvolver o fluxo turístico, usando o espaço vago nas aeronaves e nos hotéis durante a baixa estação", diz o acordo, com o envio de 25 mil turistas de cada continente ao outro. O Brasil é destacado como um dos focos principais.
A iniciativa tem entre signatários países tradicionalmente visitados, como França e Espanha, mas também destinos ainda pouco procurados por brasileiros, como Polônia e Lituânia. Mas alguns países europeus, como Irlanda e Polônia, dizem não ter verba para investir individualmente em novos mercados e preferem concentrar seu marketing em países vizinhos, de onde saem a maioria de seus visitantes.
No entanto, um economista citado em reportagem do jornal Irish Times criticou a falta de investimentos irlandeses na atração de turistas brasileiros, alegando que é preciso despertar para esse mercado antes que ele amadureça completamente.
Desaceleração econômica e câmbio
Ao mesmo tempo, o setor turístico espera para ver o impacto que a recente desvalorização do real e a desaceleração econômica brasileira terão nas viagens internacionais dos brasileiros. Em abril, ao anunciar que os gastos brasileiros no exterior em março haviam sido menores do que no mesmo mês em 2011, o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, disse à Agência Brasil que as viagens de brasileiros ao exterior são bastante "sensíveis" ao câmbio.
Os representantes do setor turístico consultados pela BBC Brasil, porém, minimizam esse impacto. "Para um País como o Brasil, que no passado administrava uma alta inflação, isso não é nada", disse Edmar Bull, vice-presidente da Associação Brasileira de Agentes de Viagens (Abav).
"A moeda brasileira ainda tem grande valor em comparação com a moeda húngara", afirmou Kristina Bacsak. A Hungria, assim como Polônia, República Tcheca e Dinamarca, não fazem parte da zona do euro e tem moedas próprias. Para a Dinamarca, o câmbio pode ser um problema de longo prazo, mas, com o real comprando 2,85 coroas dinamarquesas, o país nórdico ainda é competitivo, disse Mortensen. "É possível fazer uma boa refeição por R$ 25 aqui; nossos preços são parecidos com os de São Paulo."
Para Destro, representante da República Tcheca, as variações cambiais tendem a afetar mais o fluxo a destinos turísticos mais populares, como Miami e Argentina, e não tanto os que vão para o Leste Europeu, por exemplo. "O turista brasileiro (no Leste Europeu) é quem já viajou para a Europa e gostou e agora busca novos destinos dentro do continente. A alta (do dólar) não é tão significativa para ele."
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