domingo, 15 de abril de 2012
Lula chora, mas volta com a língua afiada
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retornou ontem, em São Bernardo, às atividades políticas. Em seu primeiro ato público oficial após ser diagnosticado livre de um câncer na laringe, Lula roubou a cena. Ele esteve na inauguração do CEU (Centro Educacional Unificado) Regina Rocco Casa, nome dado em homenagem à mãe de sua mulher e ex-primeira-dama do Brasil, Marisa Letícia. Lula chorou, mas manteve linha crítica aos adversários e exaltou os companheiros de partido.
A participação de Lula no evento atraiu multidão de populares que se aglomeraram no local desde às 8h para ver o ex-presidente, que por recomendações médicas se manteve isolado do público.
Lula discursou por cerca de cinco minutos, exaltando o prefeito Luiz Marinho (PT), a presidente Dilma Rousseff e o pré-candidato à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad. A última aparição pública do petista na cidade foi em outubro, quando esteve com crianças durante feira literária realizada na cidade. Na ocasião, ele declarou pela primeira vez apoio à pré-candidatura do ex-ministro da Educação ao Paço da Capital.
"Se eu tivesse juízo, não falava, porque a minha voz ainda não está boa. Espero que em 15 ou 20 dias estarei apto a me dirigir aos companheiros País afora", projetou o ex-presidente, que enalteceu a figura de seu afilhado político, Luiz Marinho. "Estamos diante do homem que mais fez por São Bernardo e em menos tempo", discorreu, em clara comparação com as getões anteriores do PSB e PSDB na cidade.
Sobre Dilma, disse que teve "razão" ao pedir votos a ela em 2010. "Da mesma forma que um metalúrgico mostrou que não precisa de uma pilha de diploma para cuidar de pobre, a Dilma vai mostrar que uma mulher não é inferior para cuidar do País", declarou.
Lula se emocionou e chegou a derramar algumas lágrimas quando o deputado federal Vicente Paulo da Silva (PT), o Vicentinho, relembrou sua trajetória, vindo de Pernambuco para ser metalúrgico em São Bernardo. "O companheiro enfrentou inclusive o preconceito da elite na eleição (presidencial de 2002, a qual venceu)."
CANSAÇO
Visivelmente cansado e abatido, Lula interrompeu o discurso três vezes devido a crises de tosse. Tomou água e, após três tentativas de retomar a fala, desistiu.
Diagnosticado com câncer em outubro, ele iniciou imediatamente sessões de quimioterapia, tratamento que terminou no fim de março, quando exames demonstraram a ausência do tumor - também fez radioterapia. A partir daí, o ex-presidente, já afastado das atividades em seu instituto em São Paulo - tem feito sessões de fonoaudiologia e vai fazer também fisioterapia para recuperar massa muscular.
Marta Suplicy e Haddad trocam afagos
Antes adversários, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad e a senadora Marta Suplicy (ambos do PT) deram sinais de que fizeram as pazes e vão unir as mãos no pleito da Capital.
Ontem, durante a inauguração do CEU Regina Rocco Casa, os dois trocaram gentilezas. "Haddad, eu e o Lula estaremos com você em São Paulo, onde o programa do PT tem que voltar para acabar com a mediocridade absoluta em que a cidade se encontra", disparou Marta, em crítica velada ao prefeito Gilberto Kassab (PSD), que apoiará o tucano José Serra na disputa paulistana.
Adotando discurso mais agressivo, o ex-ministro criticou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e enaltceu os investimentos de Lula na Educação. "Nenhum doutor que veio antes investiu mais na Educação do que o senhor (Lula)."
Marta e Haddad travaram uma guerra interna para ser o nome do PT na corrida pelo Palácio do Anhangabaú. Ele levou vantagem por receber o apoio do ex-presidente Lula e acabou sendo o escolhido, apesar da falta de experiência nas urnas.
Insatisfeita, Marta chegou a declarar que o correligionário teria que "gastar muita sola de sapato" para ser conhecido. A atitude da senadora não agradou o alto clero petista, que a repreendeu.
Eleita prefeita em 2000, com 3.247.900 votos, a petista não conseguiu se reeleger quatro anos depois, sendo derrotada por Kassab (na época no DEM). Em 2010, Marta foi eleita senadora - atualmente ocupa a vice-presidência do Senado.
Ventila-se que um dos motivos que levou os caciques petistas a optarem por Haddad foi uma linha adotada pela sigla de investir em lideranças jovens, renovando o partido, em conformidade com os pensamentos da sociedade.
Mesmo sendo desconhecido de boa parte do eleitorado paulistano e sem despontar nas pesuisas de intenção de voto, a expectativa é de que Haddad tenha o nome fortalecido com o início da campanha eleitoral na TV.
"O Haddad vai crescer a partir da campanha em si", considerou o prefeito Luiz Marinho, considerando que a propaganda televisiva ajudará a popularizar o nome do ex-ministro. Ele disse que pode colaborar com Haddad, mas que vai priorizar seu projeto de reeleição em São Bernardo. RS
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