O Banco Central elevou, por unanimidade, a taxa básica de juros (Selic) de 12% para 12,25% ao ano. Esse é o quarto aumento consecutivo dos juros, que estavam em 10,75% ao ano no início do governo Dilma. É a maior taxa desde março de 2009, quando a Selic estava em 12,75%. A decisão, anunciada ontem pelo Comitê de Política Monetária (Copom), já era esperada pela maioria dos economistas. Agora, a expectativa do mercado financeiro é que seja anunciado pelo menos mais um aumento de 0,25 ponto percentual da taxa, na reunião do Copom marcada para o dia 20 de julho. A previsão dos economistas é que a Selic encerre o ano em 12,50%.
"Considerando o balanço de riscos para a inflação, o ritmo ainda incerto de moderação da atividade doméstica, bem como a complexidade que envolve o ambiente internacional, o Comitê entende que a implementação de ajustes das condições monetárias por um período suficientemente prolongado continua sendo a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta em 2012", diz o comunicado divulgado pela autoridade monetária.
O aumento dos juros é parte do trabalho iniciado no final de 2010 para esfriar a economia, colocar um freio no crédito e tentar controlar a inflação, que está hoje no maior nível em seis anos. Dados divulgados na terça-feira pelo IBGE mostram que o IPCA, indicador oficial que serve de referência para o BC, caiu pelo terceiro mês seguido. O valor acumulado em 12 meses, no entanto, ainda está acima do teto da meta, que é de 4,5% com dois pontos de tolerância. Nos próximos três meses, a inflação deve cair novamente, mas a previsão é que fique acima do registrado no período entre junho e agosto de 2010, quando os valores estavam próximos de zero.
Na semana passada, foram divulgados os dados do PIB do primeiro trimestre, que mostraram desaceleração do consumo. Dados do BC sobre crédito e contas públicas confirmam esse movimento. Antes de aumentar a taxa básica, o BC já havia anunciado restrições a financiamentos e retirado da economia a última parte do dinheiro injetado na crise de 2008. O governo também anunciou corte de R$ 50 bilhões no orçamento e aumentou a alíquota de IOF sobre empréstimos para pessoas físicas. A taxa básica determina o custo do dinheiro para os bancos e serve de base para os juros dos empréstimos bancários.
Para entidades, economia exibe sinais de desaceleração
Os sinais de desaquecimento da atividade econômica já mostram redução do consumo no País e justificariam queda ou manutenção da taxa básica de juros, e não sua elevação. A avaliação perpassou os comentários de representantes de entidades industriais, comerciais e de trabalhadores a respeito da decisão do Copom em elevar em 0,25 ponto percentual a taxa Selic. "A atividade econômica já mostra claros sinais de desaquecimento; o aumento dos juros onera ainda mais o consumo e a competitividade da indústria. Nesse momento, cabe ao governo segurar os gastos e adotar medidas que compensem essas penalidades sobre a sociedade", afirmou o presidente da Fierg, Paulo Tigre.
A Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) também lamentou a decisão e entende que o excesso de cautela poderá causar um descompasso ainda maior entre a oferta e a demanda interna, hoje a principal razão pela qual a inflação já ultrapassa o teto da meta, de 6,5%. "A nossa posição é que se poderia ter mantido a Selic como estava, em 12%, uma vez que os efeitos dos juros altos já se mostraram eficientes sobre a desaceleração da demanda", avaliou o economista e presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Junior.
Para a central sindical União Geral dos Trabalhadores (UGT), os membros do Copom mostraram mais uma vez que estão em total descompasso com a realidade da economia brasileira ao elevar a no mesmo dia em que o IBGE anunciou queda da produção industrial. "Antes, a desculpa era de que é preciso conter a inflação. Mas todos os indicadores divulgados mostram que a inflação está em queda acelerada", disse o presidente Ricardo Patah.
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