domingo, 29 de maio de 2011
"É um dos lugares mais mágicos e fortes do mundo", diz Bruna Lombardi sobre o Pampa Bruna virá ao RS em agosto para lançar o próximo filme "Onde Está
De chapéu panamá e óculos escuros, tomando chá no hall do Hotel Mabu, em Foz do Iguaçu, a loira Bruna Lombardi passaria facilmente por uma jovem turista estrangeira, das milhares que todos os anos desembarcam na cidade para conhecer as cataratas. Quando tira os óculos e mostra os inconfundíveis olhos verdes, revela-se a mulher que estampou incontáveis capas de revistas, fez novelas, filmes e comerciais. Quando fala, emerge a escritora que encantou o poeta Mario Quintana nos anos 1970, quando esteve pela primeira vez na Praça da Alfândega para lançar seu livro de poesias, e agora faz roteiros de cinema, atua e produz os próprios filmes. Aos 58 anos, aparenta menos. Muito menos.
É para lançar o próximo filme, a comédia romântica Onde Está a Felicidade?, que Bruna virá ao Rio Grande do Sul em agosto. Ela conta que adora Porto Alegre, elogia os gaúchos e revela que já passou mil vezes pela cabeça fazer um filme que tenha o Pampa como cenário:
— Eu acho que é um dos lugares mais mágicos e fortes do mundo. Uma força na quietude que é impressionante.
Bruna conversou com Donna durante 55 minutos, antes de mediar um painel com o sociólogo italiano Domenico de Masi, no Fórum Político da Unimed Brasil. Falou de seus projetos, da paixão por Quintana, do Brasil comandado por Dilma Rousseff e até dos segredos para não se preocupar com a chegada dos 60 anos.
Donna _ Por que a felicidade como tema?
Bruna _ A felicidade é um grande tema, está sendo discutido até em Harvard. O curso que mais teve inscrições no ano passado em Harvard chamava-se Happier.
Donna _ Aqui no Brasil, o senador Cristovam Buarque tem até um projeto que trata a felicidade como um direito fundamental do homem.
Bruna _ Eu conheço o senador Cristovam. O projeto é inspirado no Butão, que tem a felicidade como centro de um projeto de governo. Qual é o PIB que interessa? Não é só o crescimento econômico. Tem que ter a melhoria da qualidade de vida de todos.
Donna _ Como a felicidade é tratada no seu filme?
Bruna _ O filme brinca com a felicidade. É sobre um casal. A mulher que trabalha com comida, tem um programa de receitas afrodisíacas na TV, e ele é comentarista de futebol.
Donna _ Ela é você?
Bruna _ Eu faço o papel dela. O Bruno Garcia faz o papel do marido. E o Marcelo Airoldi faz o diretor do programa. Ela vai perder o emprego, vai descobrir que o marido está tendo um quiproquó e vai largar tudo. Aquele desejo de mudar, aquela mudança radical que uma mulher tem em um momento de desespero. E ela resolve fazer o caminho de Santiago de Compostela. O diretor vai junto. É claro ela que vai pelas razões erradas. É uma comédia, os personagens estão buscando as coisas no lugar em que não estão. É uma coprodução Brasil_Espanha, uma grande parte do elenco é espanhola, outra é brasileira.
Donna _ O filme é falado em inglês?
Bruna _ Não, em português e em portunhol. Porque é um brasileiro achando que fala o espanhol na Espanha, e o espanhol achando que fala português. É muito engraçado. O filme vai ser distribuído pela Fox e tem a Globo Filmes. Vai ser um grande lançamento.
Donna _ Você foi roteirista, atriz principal e produtora. A família toda está envolvida?
Bruna _ Sim, o Ri (Carlos Alberto Ricelli, marido de Bruna) dirige, e o Kim (filho) é diretor-assistente. É a mesma dobradinha que a gente fez em O Signo da Cidade.
Donna _ O Kim foi para os Estados Unidos com oito anos. O cinema entrou na vida dele naturalmente?
Bruna _ Entrou. E não parou mais. Ele trabalha com música. Eu acho que ele tem todas as gamas da arte. Ele toca um instrumento fantástico que se chama "hang", toca superbem, tem vários projetos experimentais, e ele adora o Brasil. Está sempre nessa ponte. Hoje em dia nós estamos mais preparados para nos movimentar pelo mundo. Na época em que eu saí de São Paulo para estudar roteiro, o Brasil não tinha nenhum escola, e eu queria me aperfeiçoar nisso. Mas eu nunca deixei minha casa no Brasil.
Donna _ Vivendo em Los Angeles, é teu sonho de consumo um dia ganhar um Oscar?
Bruna _ Eu sei que qualquer um tem esse sonho. Quem já não pensou nisso? Mas eu, desde menina, sempre "apareci muito", por várias circunstâncias. Eu fazia balé e estudava no Dante Alighieri, uma escola paulista de 5 mil alunos. Na época quase não existia o nome Bruna no Brasil. Eu era a única Bruna.
Donna _ Bruna Tereza...
Bruna _ Bruna Patrícia Romilda Maria Tereza Lombardi. Enorme. Os professores diziam: quem é essa? Então eu sempre apareci muito. E é engraçado, porque ao mesmo tempo eu tinha um desejo de recolhimento. Esse é o meu lado escritora. Eu vivia nesses dois polos. O polo público e o polo de recolhimento, onde eu ia trabalhar, criar, escrever, meus livros, meus poemas.
Donna _ Você começou a escrever poemas ainda menina?
Bruna _ Sim, menininha. Nessa época do Dante eu já era muito conhecida porque aos sete, oito anos, eu já escrevia. As colegas pediam "faz essa redação pra mim". E eu fazia.
Donna _ Cartinhas para os namorados das amigas também?
Bruna _ Também. Eu já era mercenária. Escrevia em troca de chocolate. E elas adoravam. Minhas grandes amigas foram as primeiras grandes incentivadoras. Depois os professores. E eu comecei a ser a representante da minha escola em concursos de redação, porque inevitalmente eu ia ganhar. Eu não estou falando isso para me gabar. Mas eu estava acostumada a ser chamada para escrever, para fazer discurso, até o meu último ano de faculdade, quando eu fiz os dois discursos de formatura.
Donna _ As novelas fizeram você ficar conhecida do grande público? Tem saudade?
Bruna _ Acho que foi muito gostoso. A novela é uma coisa muito forte no Brasil. As pessoas amam de paixão, mas teve um ponto da minha vida que eu tive que fazer uma escolha. De um lado eu tinha um contrato que a Globo queria renovar por sete anos, ganhando superbem, fazendo grandes trabalhos. De outro lado, tinha o desejo de me aventurar no desconhecido. Tem uma hora que você tem que seguir o seu instinto. E eu queria essa liberdade de tentar e de me aventurar. Desde sempre eu quis isso. A situação muito confortável me inquieta.
Donna _ O risco te fascina?
Bruna _ Eu acho que eu tenho uma inquietude forte, que eu preciso de algum desafio permanente e, de preferência, de uma coisa que eu ainda não sei. Eu não tenho sonhos mirabolantes, de uma coisa que jamais vou poder alcançar. Meus sonhos exigem muita dedicação e trabalho. Se eu tivesse que me definir, eu diria que sou uma pessoa muito trabalhadora. Eu acho que isso é que tira um pouco o medo da gente. Eu estou aqui agora, se eu precisar lavar esse chão inteiro (aponta para o amplo saguão do Hotel Mabu), dar uma limpada e organizar isso aqui, eu faço. Eu não tenho medo de trabalhar, entendeu? Eu não sou aquela pessoa que cruza os braços e quer que alguém faça por ela. Eu gosto de arregaçar as mangas.
Donna _ Em sua casa em Los Angeles você faz esse tipo de serviço ou faxina é força de expressão?
Bruna _ Eu sou aquela pessoa que quando não está fazendo nada está fazendo faxina. Hoje eu não tenho nada pra fazer? É pra já. Tiro tudo da gaveta, jogo coisas fora, dou metade das minhas coisas. Limpo tudo. Não sei se isso é bom ou se isso é ruim. É minha natureza.
Donna _ O Rio Grande do Sul tem uma ligação forte com você, por ter sido a musa do nosso poeta Mario Quintana. Como é que isso tudo começou?
Bruna _ Olha, o Rio Grande do Sul é um marco na minha vida. Porto Alegre é a minha cidade de paixão. Por incrível que pareça, o primeiro dinheiro que eu ganhei foi com poesia. Depois eu ganhei muito mais como modelo, claro, e como atriz, muito mais. O primeiro cheque que eu ganhei foi publicando poesia na Universidade de Nova York, que eu nem conhecia. Mandaram meus poemas, a universidade publicou e me mandou um cheque de US$ 1 mil. Uma fortuna para quem tinha 16 anos. Eu tinha essa sensação de que eu era uma profissional para escrever. Quando eu publiquei meu primeiro livro, que o Chico Buarque fez o prefácio — e ele era meu maior ídolo, quase morri atropelada por causa de um pôster dele —, eu nem acreditei que aquilo estava acontecendo. Pra mim era um milagre. Aí eu vim para a Feira do Livro de Porto Alegre. Foi como se eu tivesse entrado no Nirvana. Eu fui convidada no meio de todos esses escritores brasileiros e conheci Mario Quintana, Clarice Lispector, Nélida Piñon, Rubem Fonseca, Moacyr Scliar, Sérgio Faraco e tantos outros. Esses nomes pra mim eram míticos.
Donna _ De parte do Quintana foi amor à primeira vista.
Bruna _ Eu era tão fã dele, sabia poesias dele, era leitora dele. Então você imagina aquela menina que é fã, sentada na mesa dos autógrafos. Eu olho e vejo Mario Quintana na fila de autógrafos do meu livro. Eu não acreditei. Congelei. Claro, fui lá para tirá-lo da fila, e ele falou "não, não", com aquele jeitinho dele, que Mario era um anjo. Mario não era uma pessoa. Eu sempre brincava com ele que ele tinha asas escondidas debaixo daquele terno cinza que ele usava. Que ele escondia as asinhas, enfiava o blazer dele e ia pra cidade tomar café, sentar no banco da praça, fumar, conversar e escrever. Esse era o Mario. Eu tenho um monte de cartas do Mario, escritas a mão, o que pra mim é um tesouro. As pessoas perguntam "por que você não publica?".
Donna _ Você já pensou em publicar?
Bruna _ Não, deixa lá, quietas. Por que eu vou publicar? Não sei se ele gostaria que eu publicasse. Não tive esse sinal dele. Se um dia eu tiver eu publico.
Donna _ E depois?
Bruna _ Desse dia em diante nós ficamos muito amigos. Ele já tinha uma idade avançada, a saúde era muito frágil. Aquela coisa do passarinho: "Eles passarão, eu passarinho". A gente se prometeu que todo ano a gente ia ter pelo menos um encontro, além de trocar cartas. Às vezes eu ficava sem escrever, ele reclamava muito. E todo ano a gente se encontrava para um chá. Sabe, parecia a Alice e o Chapeleiro Maluco. Eu ia a Porto Alegre, a gente se encontrava, tomava um chá, e era uma amizade assim, de conversar sobre literatura, sobre poesia, sobre vida, porque ele tinha esse humor constante e, ao mesmo tempo, a gente se fazia bem.
Donna _ Tem um pouco de Mario Quintana em Onde Está a Felicidade?
Bruna _ Será? No fundo tem um pouco de Mario Quintana em tudo o que a gente vive. Acho que Mario espalhou a energia fabulosa dele em todos nós. Sabe aquele anjo que virou energia para todo lugar? Claro, a vida vai mudando tanto, mas ele é um cara que mora para sempre no meu coração. E é bom porque todos nós trabalhamos para preservar a memória dele. Eu fico feliz que tem gente fora do Brasil que conhece a literatura brasileira e cita o Mario Quintana como um dos maiores poetas do mundo. A obra dele ganhou o mundo. Isso é uma alegria enorme. Mario, com aquela simplicidade, era de uma modéstia comovente.
Donna _ Há espaço para a poesia nesse mundo supertecnológico?
Bruna _ Eu acho que nesta busca da felicidade o homem chegou a grandes bens materiais, o mundo está mais rico, o Brasil está bombando, mas eu vejo as pessoas querendo buscar o lúdico, o lado mais emocional. Parece que todo mundo no Rio Grande do Sul é um poeta enrustido. Todo mundo escreveu um livro, tem uns poemas escritos, tem um lado B. Esse culto à poesia, esse culto à literatura, esse culto às palavras, que passa de geração para geração, e que está no cerne. Essas coisas estão no DNA, assim como está no DNA o prazer de olhar essa extensão do pampa. Sentar quieto e olhar aquilo, é uma contemplação. Tem coisa mais maravilhosa do que esse momento?
Donna _ Você fala do pampa com tanto entusiasmo. Passa pela sua cabeça fazer um filme que tenha o pampa como cenário?
Bruna _ Já passou mil vezes. Eu acho que é um dos lugares mais mágicos e fortes do mundo. Uma força na quietude que é impressionante. A valorização da literatura que tem no Rio Grande do Sul é rara de se encontrar. Preservaram esse valor. Tem inteligência. A gente vive de valores. Os valores adquiridos, os valores ensinados desde criança e os valores que a gente escolhe. Eu fico supercontente cada vez que eu vou ao Rio Grande do Sul. No debate do Signo eu fui a Porto Alegre e foi extraordinário. Espero repetir agora com Onde Está a Felicidade? porque é muito estimulante você conversar com essa plateia interessada, inteligente.
Donna _ Quando a gente fala em cinema hoje no Brasil a grande discussão é se o cinema deve ou não ter incentivos oficiais. Você acha que deve?
Bruna _ Se você compra um carro brasileiro, ele tem um preço, se você compra um carro estrangeiro ele tem outro preço. Se você compra uma revista brasileira, ela tem um preço, se você compra uma revista estrangeira, ela tem outro preço. No entanto, o tíquete de cinema é igual para os dois. Nós temos uma concorrência muito forte além daquela que se tem em casa, da televisão. O cinema precisa de subsídio do governo, se não ele não sobrevive. Mas ele não pode, com esse subsídio do governo, se tornar um cinema de autor para meia dúzia. Tem que ser um cinema de comunicação com o público. Nós temos essa experiência de vários filmes brasileiros que fizeram sucesso e superaram os estrangeiros, concorrendo ao mesmo preço. Isso prova que o cinema brasileiro é um produto de sucesso. Ele compete com filmes onde se investem US$ 100 milhões, US$ 200 milhões. Nosso cinema é baratíssimo. Eles não acreditam que a gente consiga fazer cinema por tão pouco.
Donna _ Quanto custou esse teu último filme?
Bruna _ Eu não sou a pessoa que cuida do budget (orçamento). Quando a gente trouxer a pessoa que cuida disso, você terá a resposta. Mas é um filme mais caro, porque foi uma produção Brasil-Espanha.
Donna_ Mas teve captação de recursos pelas leis de incentivo?
Bruna _ Teve captação, teve patrocínio. Eu acredito muito no patrocínio das empresas. Eu adoro que as empresas patrocinem cinema. Nós tivemos patrocínio da Man (Divisão de caminhões da Volkswagen), da Credicard, da Sabesp, da Telefónica, várias empresas que deram voto de confiança, que acreditaram na gente, que estão com a gente desde o primeiro filme. Eu acho que a empresa que põe dinheiro em cultura está colaborando com essa necessidade que o mundo tem de se elevar espiritualmente.
Donna _ Você morando boa parte do tempo em nos Estados Unidos tem uma visão bastante otimista do Brasil. De onde vem a convicção de que o Brasil está melhorando?
Bruna _ Eu acho que estamos vendo uma enorme evolução. Na área política eu acho que a gente nunca viu um estado de coisas tão bom. A minha vida inteira eu nunca vi uma sucessão de governos tão boa como a gente viu agora. De Fernando Henrique, Lula, Dilma. A Dilma eu acho uma mulher extraordinária, uma mulher de vida, de postura, de valores, de integridade, idealismo, de uma dignidade. Se ela não fosse presidente do Brasil, eu acharia digno o país que tivesse essa presidente. Sabendo da história dela, da trajetória, das ideias dela e da maneira como ela vai lá resolver. Esse resultado que a gente está colhendo são sementes que foram plantadas nos últimos anos. Quando é que nós tivemos um país assim? Em que momento o Brasil viveu esse futuro que está virando presente? Eu acho que a gente está vendo o Brasil melhor do que nunca esteve. A nova geração vem com valores tão lindos, com tanto desejo de um mundo melhor. A própria rede social muda o conceito de liderança. As novas lideranças de vários Estados vêm com um novo pique, uma nova energia. Eu não tenho dúvida de que a gente está melhor. Muito melhor.
Donna _ Como você consegue conciliar essas tarefas de roteirista, atriz, produtora, com a leitura e outros hobbies e ainda manter a vida familiar preservada?
Bruna _ Eu acho que eu tenho muito empenho. Eu sou muito trabalhadora. Nada disso vem pronto. Nenhum pacote que eu conheça vem pronto. Tudo exige muito trabalho na vida. Um relacionamento exige trabalho, exige empenho, exige dedicação. Seja um livro, um filme, um bolo na cozinha. Tem que estudar, tem que fazer direito. Eu acho que é um desejo de que dê certo. Eu sou uma pessoa muito otimista, muito energética. Eu quero que as coisas deem certo, não só pra mim, mas para as pessoas que estão comigo. Eu gosto de ver as outras pessoas dando certo. Eu quero o bem dos outros. Isso pra mim é religião. Acreditar que o teu bem estar não basta. Tem gente que vive de uma forma dentro de casa, tem empregada e não quer saber se ela está bem de saúde, se está precisando de alguma coisa. As pessoas que te cercam não estão ali por acaso. Nada é por acaso.
Donna _ Você é organizada para conseguir conciliar tudo isso?
Bruna _ Eu sou muito organizada. Eu luto pela organização num mundo caótico. O mundo da gente é um mundo caótico. Eu estou longe da perfeição, mas eu batalho para conseguir conciliar, dividir o tempo. Sou bastante seletiva. Escrever um roteiro, que é uma coisa bastante complexa, exige organização. Eu evoluí nesse ponto. Eu era muito impaciente quando era mais jovem. Nunca fui muito boa de trabalho manual, porque eu não tinha muita paciência. Pois a vida não me bota pra fazer roteiro, que é uma coisa que exige uma paciência de Jó? Roteiro exige uma paciência de um monge.
Donna _ Hoje a gente vê no mundo artístico as pessoas com um medo terrível de envelhecer, às vezes até se deformando para tentar driblar o tempo. Você, que sempre foi uma mulher muito bonita, como lida com a passagem do tempo e como consegue manter essa aparência serena?
Bruna _ Isso não é segredo nenhum. Eu acho que o envelhecimento traz coisas que as mulheres não gostam, uma ruga, uma coisa. Eu não vou dizer que seja o ideal, mas considerando a opção, é ótimo, porque a outra opção é a morte. Uma frase que eu li quando era criança é "a gente não pode envelhecer sem antes ficar sábio". Eu acho que você tem que adquirir uma certa sabedoria na vida para compreender, de fato, a ordem dos valores. Claro, a aparência é um valor legal, mas só até certo ponto. Se não, o que seria do mundo? Nós todas queremos estar melhorzinhas, a gente passa um batom, põe uma roupinha bacana, arruma o cabelo, faz o que está ao nosso alcance, a gente também não quer ficar um tribufu, mas eu acho que você tem que ter uma escala de valores para compreender a abrangência de tudo. Eu, por exemplo, desde menina, eu olhava mulheres e homens e achava lindos, e eles não eram considerados padrão de beleza. Eu sempre consegui direcionar meu olhar para aquela beleza que emana das pessoas, que é essa coisa energética. Quantas pessoas são consideradas bonitas e você não acha bonita porque a energia que emana delas não tem um bom astral. E vice-versa. Há pessoas que não têm um padrão de beleza, mas a energia que emana delas é fabulosa. É fundamental ter uma boa alma.
Donna _ O que você faz para manter a boa forma e essa aparência tão jovem aos 58 anos?
Bruna _ As minhas opções, as minhas escolhas, sempre foram muito ligadas em qualidade de vida. A contemplação, a meditação, a yoga, o cuidado com o que eu como. Mas não é por dieta. Eu sou uma pessoa que não acredita em dieta. Eu acho que a dieta é o imediatismo. Claro que, se você exagerou uma noite, no dia seguinte você manera. Não é isso que eu estou dizendo, mas aquela coisa de entrar numa direta rígida e passar um mês comendo abacaxi, não é por aí. Você tem que ter uma reeducação alimentar, você tem que pensar o que você gosta de comer. Você não tem que se privar do que você gosta. Eu não sou de me pesar. Não sou muito de números. Mas não tenho esse problema de vestir uma roupa e constatar que ficou pequena.
Donna _ Você é do tipo que não sai na rua sem maquiagem?
Bruna _ Eu sou uma pessoa que sai muito sem maquiagem. A minha vaidade, vou ser superhonesta com você, é bem menor do que eu gostaria, até por uma questão de tempo. De escolha. Eu sempre escolho algumas outras coisas que me parecem mais essenciais em vez de ficar horas cuidando da aparência. É uma questão de divisão de tempo mesmo. Eu acho que tem coisas que te fazem tão bem pra beleza quanto um tratamento. Quando você lê um bom livro, vai fazer bem para a tua beleza, para a tua alma. Eu acho que a beleza reflete muito a tua alma, a tua qualidade de vida, a tua felicidade, o teu bem estar. Se você não está bem com você mesma, com a tua saúde mental, física e emocional, isso se reflete na aparência.
Donna __ O seu marido também parece muito mais jovem do que ele é. Qual é a receita da família?
Bruna _ Tem que ter uma química natural. Eu acho que um casal passa por milhões de fases. Essas milhões de fases é que dão a vivência, o crescimento. A gente cresce juntos. A gente aprende juntos, descobre as coisas juntos. Eu acho que a gente já passou tantas diversidades que vai ficando mais sólido, mais abrangente, muito mais profundo. Eu acho que eu tenho muita sorte de a gente ter os mesmos interesses, os mesmos desejos, um olhar muito parecido sobre o mundo, mas acho também que é resultado de um crescimento juntos. O que acontece muito com um casal é que cada um cresce para um lado.
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