Os Estados Unidos exercem constante pressão a favor da multinacional Monsanto e de seus produtos, responsáveis por boa parte do mercado mundial de sementes e de agrotóxicos. Telegramas vazados pelo Wikileaks mostram que embaixadores e parlamentares do país do Norte atuam fortemente a favor dos interesses privados em território argentino – o que indica que o mesmo pode ocorrer no Brasil.
O jornal Página12, responsável pela publicação dos documentos do Wikileaks no país vizinho, aponta que o lobby teve início com a cobrança de royalties sobre sementes transgênicas. A Monsanto queixava-se de que os produtores argentinos pagavam um percentual muito pequeno pelos organismos geneticamente modificados que utilizavam. A empresa entende que os produtores que optam por fazer o plantio da soja utilizando sementes estocadas no ano anterior devem, igualmente, pagar os direitos da marca sobre aquilo que produzam e vendam.
Em uma das correspondências, de 2006, o então embaixador dos Estados Unidos, Lino Gutiérrez, revela que teve uma conversa com a ministra da Economia, Felisa Miceli, que afirmou haver consenso quanto à necessidade de que a empresa fosse remunerada pelos organismos geneticamente modificados. Mas a negociação azedou no mês seguinte, quando congressistas dos Estados Unidos chegaram a Buenos Aires com uma postura nada amistosa. Na ocasião, o Ministério de Relações Exteriores argentino indicou que não conversaria com “uma pistola apontada para a cabeça.”
As tentativas se arrastaram pelo menos até 2009, envolvendo inclusive uma visita do presidente da Monsanto na Argentina, Juan Ferreyra, à embaixada dos Estados Unidos para agradecer a pressão. Naquele momento, as brigas do setor rural com o governo frearam a tentativa de criar uma nova legislação, que contemplaria também os interesses das empresas de biotecnologia.
Agrotóxico
O Wikileaks revela que o lobby se estende ao principal agrotóxico da Monsanto, o Roundup. O herbicida, cujo princípio básico é o glifosato, domina amplamente o mercado sul-americano de defensivos agrícolas. No Brasil, o Ibama constata que 76% das vendas correspondem ao glifosato.
Segundo o Página12, a pressão dos Estados Unidos, neste caso, concentra-se no Senasa, responsável por garantir e certificar a segurança da aplicação de um agrotóxico. A embaixada relata que um estudo que demonstrava os efeitos nocivos do glifosato poderia levar à proibição do uso. Embora reconheça que o estudo tem origem em um órgão prestigioso da Universidade de Buenos Aires, o Conicet, o corpo diplomático estadunidense considera que não houve grande aceitação aos resultados dentro da comunidade científica. Um telegrama indica que os Estados Unidos enviaram documentos pró-glifosato ao Senasa.
“Em 12 de agosto a Monsanto firmou um acordo com o governo de Chaco. O embaixador apoiou a iniciativa com uma nota editorial do principal diário do Chaco e conversas com o governador esse mesmo dia. O governador Capitanich mostrou-se muito entusiasmado em trabalhar com a Monsanto para melhorar e expandir a produção local de algodão”, indica um documento de 2008.
De lá pra cá, cresceram as provas sobre os efeitos danosos dessa substância à saúde. A Justiça chegou a determinar a suspensão das fumigações com Roundup em algumas províncias. Pesquisas mostram que na província de Chaco há forte aumento no número dos casos de câncer.
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