
O imperador do Japão falou hoje ao país num raro evento que só se costuma verificar em casos de guerra ou crise nacional. Akihito declarou-se “profundamente preocupado” com a catástrofe que se abateu sobre os seus compatriotas e afirmou que está a rezar pelo povo. As palavras do imperador surgem no dia em que mais um incendio deflagrou na central de Fukushima, e em que os reatores cinco e seis entraram também em sobreaquecimento.
Espero do fundo do coração que as pessoas, deem as mãos umas às outras, e se tratem com compaixão para ultrapassar estes tempos difíceis”.
As estações de televisão interromperam as suas programações para mostrar o imperador de 77 anos, descrevendo com um ar sombrio “um desastre de escala sem precedentes”.
Akihito fez esta rara alocução pública depois de o primeiro-ministro japonês Naoto Kan, ter descrito a a crise que o país enfrenta como “a mais grave desde a Segunda Guerra Mundial”.
Tripla catástrofe Para além do terramoto de magnitude 9.0 e do tsunami que poderão ter causado mais de 11.000 mortos, o país está a braços com uma possível catástrofe nuclear provocada pela falha dos sistemas na central de Fukushima Daishi Nº1.
Esta manhã um segundo incendio deflagrou no edifício que abriga o reator quatro que estava desligado para manutenção, e uma nuvem de vapor foi vista a escoar-se de outro local da central.
O fogo foi descoberto no canto noroeste do edifício e, segundo os responsáveis da companhia que gere a central, veio renovar os receios de que as barras de combustível nuclear usado, guardadas num tanque no interior, possam vir a incendiar-se, libertando radiação no ar.
Os cerca de 50 trabalhadores que ainda se encontram a trabalhar na central tiveram de ser retirados depois de os níveis de radiação terem aumentado drasticamente. Mais tarde foram autorizados a regressar depois de a radioatividade abrandar. De qualquer modo os especialistas dizem que estes homens estão certamente expostos a elevados níveis de radioatividade e que deveriam ser “chamados de heróis” por desempenharem este perigoso trabalho.
Duas mil radiografias por horaSegundo a Agencia Internacional de Energia Atómica, chegaram a ser medidas doses de radiação que atingiram os 400 milisieverts/hora, o que equivale a receber cerca de duas mil radiografias ao tórax por hora.
As autoridades nipónicas admitem que a situação se tem vindo a deteriorar.
Um porta-voz da Agência Nuclear Japonesa reconheceu que a mais recente elevação dos níveis de radioatividade se deve “provavelmente” ao facto de a câmara de contenção do reator número três estar danificada.
Segundo este porta-voz, o fumo ou vapor que pode ser visto sobre as instalações poderá ser proveniente de fissuras na estrutura de aço e cimento que isola o material radioativo no interior do reator. Os danos teriam comprometido cerca de 5 por cento do combustível nuclear do núcleo.
Reatores cinco e seis também já estão ameaçadosAo todo, a central de Fukushima Daichi Nº1 alberga seis reatores. Nos três primeiros as autoridades estão, desde há dias, a injetar água do mar e ácido bórico para tentar compensar a falha dos sistemas de refrigeração. No entanto os especialistas dizem que não se pode excluir a possibilidade de uma fusão total ou parcial que libertará para a atmosfera grandes quantidades de material radioativo.
Há informações de que nos restantes dois reatores a temperatura está também a aumentar e esta manhã as autoridades começaram também a bombear água para tentar refrigerar os reatores 5 e 6.
A par com este agravamento surge também a preocupação de que uma potencial alteração da direção do vento possa vir a transportar as poeiras radioativas para áreas mais populosas.
Cerca de 200.000 pessoas num raio de 20 quilómetros em torno da central já foram retiradas e as que vivem num raio de 30 quilómetros avisadas para ficar em casa.
Habitantes de Tóquio preparam-se para o piorEm Tóquio, 200 quilómetros mais a sul, os 12 milhões de habitantes vivem a situação com ansiedade. Os níveis de radioatividade são superiores ao normal e nota-se uma forte redução da circulação de transportes públicos.
Para prevenir o pior a população está a açambarcar alimentos, lanternas e outros bens de emergência e em muitos supermercados há já artigos esgotados, incluindo o arroz, um prato forte da dieta japonesa.
Nos aeroportos é visível o número de mulheres grávidas ou de jovens mães que saem da capital, para irem ficar com familiares na província. Não querem correr riscos apesar de as autoridades garantirem que a situação em Tóquio não apresenta perigos para a saúde e que a radioatividade perderá intensidade antes de chegar à cidade.
A embaixada francesa aconselhou entretanto os seus cidadãos a que deixem o Japão, ou pelo menos Tóquio por medida de precaução. Neste ultimo caso são aconselhados a rumar a Osaka, no sul do país, onde o risco é mais reduzido.
O governo japonês pediu entretanto ajuda militar aos Estados Unidos para lidar com a crise motivada pelo acidente nuclear e pelos efeitos do sismo e tsunami.
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