sábado, 19 de fevereiro de 2011
Após mortes, forças de segurança recuam em cidade da Líbia Organização Human Rights Watch disse que 84 pessoas foram mortas nos últimos três dias
Forças de segurança na segunda maior cidade da Líbia mataram pelo menos três pessoas neste sábado, mas recuaram a um complexo fortificado, relatou uma testemunha após o pior levante das quatro décadas de Muammar Gaddafi no poder.
Foto: AP
Manifestantes em praça de Benghazi, neste sábado
A organização Human Rights Watch disse que 84 pessoas foram mortas nos últimos três dias, resultado de uma intensa operação de repressão em resposta aos protestos conta o governo que procuram seguir os passos de revoltas nos vizinhos Egito e Tunísia.
Não há sinais de uma rebelião de alcance nacional, com a violência concentrada nos arredores da cidade de Benghazi, mil quilômetros a leste da capital, onde o apoio a Kaddafi é tradicionalmente menor do que no restante do país.
Um residente de Benghazi disse que forças de segurança que mataram dúzias de manifestantes nas últimas 72 horas foram confinadas em um complexo, que ele chamou de Comando Central, de onde atiradores de elite disparavam contra os manifestantes.
"Eles mataram três manifestantes daquele prédio hoje", declarou a testemunha, que não quis se identificar, à Reuters.
"No momento, a única presença militar em Benghazi está confinada ao Comando Central da cidade. O restante da cidade está liberado", disse.
"Milhares e milhares de pessoas se reuniram diante da corte de Justiça de Benghazi. Agora há clínicas improvisadas, ambulâncias, alto-falantes, eletricidade. Está tudo equipado."
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"Não há escassez de comida, embora nem todas as lojas estejam abertas. Os bancos estão fechados. Todos os escritórios do comitê revolucionário (governo local) e delegacias de polícia da cidade foram queimados", afirmou.
O relato não pode ser confirmado de forma independente. Uma fonte do aparato de segurança ofereceu uma versão diferente, dizendo que a situação na região de Benghazi está "80 por cento sob controle".
Em Londres, o ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, disse que tinha relatos de que armas de fogo pesadas e unidades de atiradores de elite estão sendo usados contra os manifestantes. "Isto é claramente inaceitável e horripilante", disse em um comunicado.
O jornal privado Quryna, sediado em Benghazi e que já foi ligado a um dos filhos de Gaddafi, afirmou que 24 pessoas foram mortas na cidade na sexta-feira, e que forças de segurança abriram fogo para deter manifestantes que atacavam o quartel-general da polícia e uma base militar onde armas estavam guardadas. "Os guardas foram forçados a usar balas de verdade", informou o diário.
O governo não divulgou nenhuma cifra de vítimas nem fez comentários oficiais sobre a violência.
Um grupo de 50 acadêmicos religiosos líbios apelaram pelo fim da violência. Uma cópia do libelo foi fornecida à Reuters. Longe da região sul, a Líbia parecia calma.
Na Praça Verde, no centro de Trípoli, próximo da antiga cidade murada, centenas de pessoas se reuniram portando fotos de Gaddafi e entoando "Nosso líder revolucionário!" e "Seguimos o seu caminho", relatou um repórter da Reuters.
Um jornal estatal disse que a violência é parte dos "plano sujos e das conspirações concebidas pela América e pelo sionismo e pelos traidores do Ocidente".
Observadores da Líbia dizem que uma revolta no estilo do Egito é improvável, porque Gaddafi tem dinheiro do petróleo para aliviar os problemas sociais, e ainda é respeitado em grande parte do país.
Bahrein
Milhares de manifestantes voltaram a ocupar a praça Pérola, no centro da capital do Bahrein, Manama, para protestar contra o governo. A praça, que vinha sendo o principal foco de protestos contra o governo do Bahrein ao longo da semana, havia sido desocupada pelo Exército com violência na quinta-feira pela manhã. Na sexta-feira, pelo menos 50 pessoas ficaram feridas após militares terem disparado contra grupos que tentavam voltar ao local.
A volta dos manifestantes neste sábado ocorreu após o príncipe herdeiro do país, Salman Bin Hamad al-Khalifa, ter ordenado a retirada do Exército das ruas de Manama e sua substituição por forças policiais. A retirada do Exército era uma das exigências feitas pela oposição para aceitar a oferta de diálogo apresentada na sexta-feira pelo rei Hamad Isa al-Khalifa.
A retomada da praça neste sábado ocorreu apesar de a polícia ter tentado conter os manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha antes de se retirar do local. Segundo alguns relatos, cerca de 60 pessoas ficaram feridas.
Argélia
Centenas de pessoas de partidos de oposição, grupos de direitos humanos e sindicatos se reuniram no centro da capital, Argel, neste sábado, para protestar contra o estado de emergência que vigora no país há 19 anos. Os policiais já haviam dispersado uma concentração semelhante de manifestantes na última semana.
Os protestos pedem por melhores condições de vida e mais liberdade, além da saída do presidente Abdelaziz Bouteflika. O governo argelino proibiu grandes protestos após a onda de manifestações populares nos países do Oriente Médio e no norte da África.
A passeata deste sábado foi organizada pelo Coordenação Nacional pela Mudança e pela Democracia, mas os principais partidos de oposição ficaram de fora da concentração.
O jornal local El Watan diz que cerca de mil pessoas reunidas no centro da cidade gritavam palavras de ordem como "Fora Bouteflika".
Os grupos de oposição do país dizem que, inspirados pelos protestos na Tunísia e no Egito, organizarão protestos todos os sábados até que o governo faça mudanças democráticas no sistema político do país.
Iêmen
Um estudante foi morto a tiros e outros cinco ficaram feridos neste sábado, durante um violento confronto entre manifestantes antigoverno e defensores do regime do presidente Ali Abdallah Saleh perto da Universidade de Sanaa. O jovem é a primeira vítima fatal em Sanaa desde o início dos protestos contra o regime Saleh, há uma semana.Os confrontos foram os mais violentos entre defensores e detratores do governo, que pedem a saída do presidente, há 32 anos no poder.
Djibuti
Um policial e um manifestante morreram neste sábado, durante os violentos confrontos que se seguiram a uma massiva manifestação da oposição em Djibuti, que teve três dirigentes presos, segundo fontes oficiais. O Ministério do Interior ainda informou que "nove policiais ficaram feridos, e um deles está internado em estado crítico". Por outro lado, três dos principais líderes opositores do país foram detidos. Os enfrentamentos entre partidários da oposição, que protestam pelo fim do regime do presidente Ismael Omar Guelleh, e membros das forças de segurança recomeçaram neste sábado em um subúrbio popular de Djibuti. Um dia depois da grande manifestação da oposição na capital, violentamente reprimida, novos choques foram registrados em Balbala, localidade da periferia da cidade. O número de manifestantes não para de aumentar desde a manhã deste sábado, apesar da ação da polícia.
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